segunda-feira, 27 de outubro de 2008

DO SIDNEY MAGAL À LEYA BRANDER

Logo após o porre no casamento dos meus primos Dany e Vivi, com direito à banda do peixe, pocket-show do Sidney Magal e o cacete... fomos ainda bêbados, a Fê e eu, os primeiros a entrar na Bienal das Artes de São Paulo.

A gente adora a bienal. Arte nova, do lado de casa, de graça... e bêbados então!

PRIMEIRO ANDAR:
alguns daqueles filmes incríveis ou nada incríveis. Pra mim tudo é referência e eu adoraria ficar ali sentado, assistindo. Mas fica uma sensação de que há uma bienal inteira pela frente e não somente os filmes. E sendo assim, só demos uma passada e seguimos em frente.

dica: Marina Abramovic e seu parceiro Ulay numa frequência de choque contra dois pilares. Um trabalho performático feito na década de 60, angustiante, exaustivo, mas que não dá para arredar o pé enquanto não acaba.


Tem também um video de uma banda tosca de gente chapada tocando um som meio sex pistols para um público tosco, escasso e chapado. Bem divertido. Só não entendo como esse foi selecionado para a bienal. Recomendo os dois pra começar a caminhada.




Na sequência, o chaveiro talisman, onde um sujeito faz uma cópia de uma chave sua e em troca, te dá uma chave que abre a bienal em horários alternativos, deixando claro que se trata de uma relação de confiança e que ESSA CONFIANÇA É BEM RESTRITA, com acesso somente ao primeiro andar. A chave é linda e eu fiz a minha. Adorei a idéia. Portanto, não esqueça de levar uma chave no bolso. Chave de carro não vale.

Num extremo do andar, uma prensa gráfica vai soltando a "Enciclopédia do Mundo Explicado" - um conjunto de páginas soltas e sem ordem determinada, com textos sobre assuntos aleatórios e, pelos poucos que li, sensacionais.

Curiosidade do primeiro andar:
Na lateral existe uma loja de livros de arte e afins, e como quase toda loja, essa também tem uma vitrine. Imensa. E nessa vitrine colocaram um livro em destaque, cuja capa... um close de uma cuequinha branca num sujeito de pernocas magricelas, mas dono de um wurszt também imenso. Parece uma enguia. Consequência: havia sempre um bololô de gente pra babar no linguiçâmes. A maioria mulheres. Em grande parte feias e velhas. Mas também tinha as gatinhas e os emos, que não conseguiam fechar a boca diante da calabresa. Surpresa? Susto? Comédia? Desejo? Sei lá. Só sei que aquela capa chama mais atenção que muita obra exposta. A foto é até bacana. Mas seu público é, definitivamente, o mais bizarro.

SEGUNDO ANDAR:
Essa história da Bienal do Vazio... pra quem nunca se deu o trabalho de reparar na beleza daquela arquitetura, vale o passeio por essa laje.

(acabo de saber que a turma de marias-pixadeiras do já quase famoso Augustaitiz - ou seja, a trupezinha suja que marcou a ECA-USP e a Choque Cultural com seus rabiscos - após a nossa saída pixou também esse segundo andar. Eu, que também sou grafiteiro, entendo a vontade que dá na galera underground de deixar sua marca e trabalho naquelas paredes incrivelmente brancas, no meio de tanta arte estranha, mesmo sem ser convidado. Até porque qualquer tosqueira ali pode provocar uma revolução na carreira artistica de qualquer um. Mas "pixo" não tem a menor chance. Se os caras escrevessem algo bacana, aposto que daria certo. Mas escrever nome de gangue... tá com nada.)

Aí aquele Bertazzo, coreógrafo e professor de auto-conhecimento corporal, estava lá gravando para o fantástico, e nos convidou para participar da aula. E lá fui eu e a Fê brincar de marchar pelo andar, cantando êôuê, êôuê... e puxando elásticos enrolados nas pilastras em posição de arco e flecha. E aprendendo a encaixar a bacia. E a usar os dedões dos pés para melhorar a postura. Muito legal, o cara é ótimo, divertido, gente boníssima. Aí fiquei sabendo que, no meio da gravação, o câmera paquerou minha mulher. Mas ela é linda mesmo, então, não insistindo nem passando bilhetinho com telefone, ok, pode admirar. Porque ela é maravilhosa. E querida. Talvez por isso tantos a-odeiam. E odeiam meeeeeesmo! Porque ela é uma pintura. Uma escultura. Uma poesia. Uma obra de arte viva. Uma gata. Uma delícia. E além disso tudo, uma mulher que escolheu ao invés de ser escolhida. Nesse caso, o escolhido fui eu... slup!

TERCEIRO ANDAR
Começo falando do tobogã... outra delícia. Divertidíssimo descer 3 andares assim, em curvas transparentes em pleno Ibira. A Fê desceu gritando meu nome e eu adorei.

Ao lado do tobogã, uma parede com fotos de retratos clássicos pintados pelo Da Vinci, Renoir, Lautrec, Picasso, Gogh, todos eles. Só que as fotos dos retratos - de personagens e situações estranhíssimos - incluem também as molduras e isso forma um conjunto bastante interessante. Enfim, não acho taaaaanto assim que seja arte, mas é bonito. Pra mim parece mais uma coisa de arquitetura de interiores.

Tem também uma parede inteira de quadros brancos com frases repetidas feitas com palavras recortadas de papéis escritos com máquina de escrever. Tudo em francês, frases incríveis... mas a opinião é a mesma: lindo, glamouroso, mas está mais para decorador e menos para artista.

O meio do andar é tomado por centenas de quadrinhos com imagens bem bestas. O tipo da coisa que dá a má fama à bienal. Não pagaria um centavo naquilo. Mas é apenas a opinião desse ignorantão aqui. De repente aquilo é o must e eu não tenho a capacidade...

Em compensação, logo ao lado, uma video instalação incrível. São várias tvs alinhadas e todas mostrando o rosto de uma mesma artista em close, em momentos diferentes de sua carreira. Em uma tv ela aparece devorando uma cebola crua, na outra, penteando-se como uma louca, depois fazendo carinha sexy, depois lavando uma caveira com um escovão, depois descansando abraçada a um esqueleto... depois sendo quase esmagada por cobras malucas, depois deitada na praia... depois e depois... trabalho insano e incrível. E quem é a doida? Outra vez, Marina Abramovic. Sensacional.

"art must be beautiful, artist must be beautiful". Não perca também o "The Onion".




Mas a melhor série de todas, de uma pessoa que eu jamais havia sido apresentado e agora não sei como vivi sem até hoje, uma artista chamada Leya Mira Brander. São desenhos absurdos - corações, músculos, rostos, pessoas, peixes - adornados por frases incríveis... não sei explicar. Emoção pura. Gravuras pouco maiores que um guardanapo, mas de uma profundidade abissal. E ainda assim, iluminadas. Eu ficaria horas lendo, observando, admirando, invejando o talento, desejando ter um daqueles na minha casa. E mesmo que valesse milhões e eu estivesse pobre de tudo, não abriria mão. Morreria abraçado àquilo.



"aprendi a desenhar pra poder morar contigo" - Leya Mira Brander/2005 (obs- essa instalação ñ está na bienal)

Depois disso, aí sim, sentimos o cansaço. Minha cabeça e minhas pernas já não aguentavam mais. A Fê se arrastando ao meu lado. Lembrei que estávamos no pós-breaca, que a zonazul tinha vencido, que poucas horas antes eu dava vexame com meu copo de uisq, dançando com ela santa rosa madalena, ava naguila e blues brothers até as tantas... e que ainda tinha de votar em branco, pegar a filhota na casa da sogra, ir ao clube, copiar alguns dvds antes de devolver na locadora, quem sabe nos ver no fantástico...

...não, isso não. Deixa pros outros.


Só sei que ainda não sei como jamais havia ouvido falar na Leya Brander.

Pergunta 1:
quando é que os curadores vão lembrar desse outro gênio brasileiro chamado Luiz Sôlha?

Pergunta 2: quem foi que fez aqueles banquinhos meio Escher espalhados por toda bienal ? Se vendesse na lojinha do Mam, ou então na do livro da cueca assalamada...

Um comentário:

Anônimo disse...

Não sei bem se aquilo tudo era bebedeira ou se Santa Rosa Madalena fez com que se sentisse inspirado. Você abandonou os braços pesados ao longo do corpo...jogou a cabeça para trás como se quisesse sorrir para as estrelas... fez movimentos descompensados com as pernas,totalmente livre de regras ou ritmos...manifestando seus deliciosos gritinhos histéricos.
Leya e Marina que me desculpem, mas você é quem deveria estar lá, se chocando contra tudo aquilo que deseja mover ou se fazendo entender através de devaneios absurdos.
A camêra me perseguiu porque é cheia de vícios, como todos os outros vícios que nos deixam cegos para o belo do mundo. Mas você estava tão lá quanto eu e até Bertazzo percebeu.
Eu também me sinto escolhida por um homem como você que sabe pensar como eu e não como seu wurszt.
Bobagem grande foi seu grande esforço para conquistar seu talisman. Lembre-se que "ele" ainda existe e está aqui! Apenas parece não estar.
Você diz que gostou quando gritei seu nome, mas foi você quem pediu. Que bom que eu fiz, já que foi bom pra você, afinal, deixo de fazer tantas outras coisas.
Posso até ser querida para você mas não consigo ser para todo mundo não. Isso não faz de mim alguém que deseja ser odiada, apenas sou. Nunca vou gostar muito disso.
Para ser sincera,embora tenha sido lindo gritar seu nome, eu devia mesmo ter gritado: FODAM-SE!Fodam-se aqueles que te fazem esperar tanto por uma resposta,fodam-se aqueles que viram a cara para mim...
Merecemos isso, meu amor?
Também axqnão.
Obrigado, Sidney! Graças à você eu reencontrei ali aquele Igal de antes.